sábado, 27 de novembro de 2010

Testemunho IV

Tiago, 19 anos, estudante e escritor nas horas vagas (quem ler isto pensa que são os classificados de uma certa “mala-posta matinal”), sou um tanto ou quanto louco mas num bom sentido.

O primeiro contacto homossexual que tive foi naquelas típicas brincadeiras de rapazes ao 7/8 anos. Realmente na altura eram apenas brincadeiras inofensivas, onde não havia qualquer medo pois eramos todos amigos.

Desde os 10 anos que sei que sou gay e tenho a certeza disso, mas só aos 14 anos assumi perante mim e todos que era exclusivamente gay. Pois, até então mantinha relações tanto com rapazes como raparigas, algumas dessas em simultâneo, outras por fases.

Como qualquer jovem de 10 anos não tinha grande consciência do que fazia com o meu namorado, porque sabia que era o comportamento dito “errado” , mas ao mesmo tempo era algo que a mim me fazia sentido, já para não falar que me deixava arrebatado um simples beijo de homem.

Os medos começaram a sério aos 14anos quando decidi que era altura de parar de me enganar e de enganar as raparigas com quem namorava.

Primeiro medo: o medo que todos saibam que gostamos de pessoas do mesmo género.

Segundo medo: o medo que os pais saibam (no meu caso a mãe, pois à data não conhecia o meu pai).

Ultrapassado o primeiro medo, à medida que ia contando a alguns amigos que achava dignos de saberem tal segredo. Ao mesmo tempo apanhava algumas desilusões e ouvia comentários indesejados. E, foi isso que me fez começar a ganhar defesas, que me fez ver que afinal podia contar aos outros, mas não a toda a gente (essa etapa seria para mais tarde).

Aos 12 anos comecei então a abrir-me para o mundo LGBT, o único medo que tinha nessa altura era que a minha mãe descobrisse, tirando aqueles medos típicos numa relação ou no contacto com outros rapazes.

Abreviando um pouco, passei bem até aos 14 anos na altura em que assumi que era unicamente homossexual. Mas acho que nessa altura só me assumi porque me apaixonei perdidamente por um rapaz e não podia continuar a enganar mais ninguém. Depois disso namorei com alguns rapazes e pouco depois de fazer 15anos, chegou a altura de perder o segundo medo. Andava eu a preparar a conversa com a minha mãe e um dia convidei um namorado para ir lá a casa (disse à minha mãe que era um amigo) e lá veio ele a minha casa, estávamos aos beijos e tal, entretanto a minha saiu para ir ás compras e quando voltou apanhou-me aos beijos com ele. Pensei naquele momento que ia ser posto fora de casa ou que me iam bater. Mas não! A minha mãe simplesmente foi para a casa de banho, lavar as louças da casa de banho. Fui ter com ela e houve somente uma pergunta: “é isso que queres?”

depois disse que em apoiava e que eu ia ouvir muitas criticas ao longo da minha vida. Dito e certo, tenho ouvido muitas criticas, mas habituei-me a elas, habituei-me a ignorá-las. Passei a ter o que chamo “costas largas”…

A partir do momento em que o segundo medo deixou de ser medo, senti-me aliviado, senti-me livre e vi a minha relação com a minha mãe melhorar bastante, por vezes mais parecíamos dois amigos a apreciar homens.

Tendo visto o fim a estes medos surgiram outros. Agora eram os medos de uma pessoa mais frágil, os medos de me magoar e desiludir com as relações que tinha.

Posto isto passei a ser eu mesmo em casa e na rua, até ao dia em que a minha mãe morre. Após este choque, a minha vida deu uma volta completa. E quando vim viver para casa da minha avó percebi que custava bastante voltar a guardar a pessoa que sou no armário. A minha vida retrocedeu. Voltei ao segundo medo!

Agora resta-me batalhar e pensar que o dia de amanhã será mais “livre” que o de hoje, continuarei à procura do rapaz perfeito, ou do homem que me irá levar ao altar.

Não tenham medo de arriscar, criem defesas e conseguirão enfrentar tudo e todos.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Testemulho III

Antes de mais olá a todos!

Confesso que tenho andado a “adiar” a escrita deste testemunho, talvez por não ser fácil falar de algumas coisas apenas em poucas palavras. Mas, ainda assim cá vai uma tentativa.

Não sei dizer quando me apercebi da minha orientação. Sei no entanto que sempre me senti diferente. Nunca fui uma menina de cor-de-rosas nem bonecas, mas sim muito maria-rapaz. Tudo bem até ao básico, altura na qual comecei a sentir-me atraída por outras raparigas (se bem que na altura não o sabia, para mim era normal). O tempo foi passando e eu sempre com a noção de que era diferente, mas sempre afastando a possibilidade de sentir atracção por raparigas. No meu pensamento dizia “Apenas não sinto por rapazes” e ficava por aí.

Foi aos 15 anos que conheci a minha primeira namorada, numa escola. Mantive segredo da minha família, morria de medo que descobrissem e ainda não é uma perspectiva que me deixe tranquila. Mas com ela agia sem problemas, em qualquer sítio. Isso acabou por trazer-me alguns desgostos, pois acabei por ficar com fama entre algumas pessoas e ouvir comentários menos agradáveis. Ela acabou por conhecer os meus pais, como amiga, mas como a relação ia começando a ficar longa foi cada vez mais complicado esconder, uma vez que ela ia todas as semanas lá a casa. A minha mãe acabou por descobrir. Não foi bonito, nem agradável e não há um dia em que não me lembre da sua expressão nem do que foi dito. Ela não aceitou, quis levar-me ao psiquiatra mas eu recusei. Não falamos sobre a minha orientação, apenas sobre o facto de namorar com aquela rapariga. O tempo foi passando, o relacionamento não durou muito mais e o assunto caiu por terra. Não está morto mas sim adormecido e sim, temo o dia em que acorde de novo. Acho que ela tem perfeita noção de como sou mas não quer aceitar, não quer ver, parece que tapa os olhos e vira costas. E isso magoa, continua a deixar algumas marcas fundas mas aprendi com o tempo que elas saram com um sorriso da pessoa que está do nosso lado.

Hoje há algumas pessoas que sabem e algumas delas ainda me olham um pouco de lado, mas não é coisa a que ligue, nunca foi. Tornei-me um pouco mais reservada no que toca a demonstrações de carinho em público, embora aos poucos vá conseguindo estar mais à vontade sem medo com a minha namorada, mas ainda há um longo caminho pela frente.

Nem tudo é mau. Quando temos amigos, pessoas que nos apoiam e que nos fazem ver uma pouco de luz no meio da escuridão, tudo se torna mais fácil, o preconceito desvanece e a felicidade ganha =)

Kim